Já pararam para refletir no percurso que um conceito vago faz até virar uma ideia pronta para uma história?
No começo, como em um universo pré-Big Bang, os conceitos flutuam — indistintos e imateriais — na mente inconsciente. Não são passíveis de serem nomeados ou compreendidos. Ainda.
No final do caminho, os conceitos viraram ideias claras e definidas e agora sabemos — pelo menos em linhas gerais — sobre o que queremos escrever.
Mas e o meio do caminho?
Esse é o momento da criação que mais me fascina.
A partir desse caldo primordial de sentimentos, emoções, desejos e imagens, aos poucos vão emergindo esboços de ideias.
Nessa fase, a mente passa a registrar o cotidiano de uma forma diferente: um nome em uma placa de trânsito, uma expressão facial, um som... tudo será incorporado nessa ideia que aos poucos está passando do estado gasoso para o sólido.
Nesse momento o que será que está acontecendo com o cérebro?
Para investigar exatamente isso, um estudo de 2011 usando Ressonância Magnética Funcional* examinou 28 voluntários enquanto eles faziam um brainstorm seguido por alguns minutos de escrita propriamente dita. Os pesquisadores demonstraram que as áreas ativadas durante o brainstorm (concepção da ideia) e a escrita criativa em si não são exatamente as mesmas.
Esses resultados não foram uma surpresa para mim. Tenho essa nítida sensação de que a atividade mental que concebe a história não é a mesma que ocorre durante a fase da escrita.
O que eu imagino é que exista uma longa cadeia de eventos e de ativações de circuitos cerebrais únicos que nos leva a percorrer esse caminho: do vazio — da ausência — até uma história estruturada que jorra no papel (ou na tela).
Talvez exatamente por isso nenhuma etapa deva ser apressada. É preciso deixar a mente livre e o pensamento, sem amarras.
Subitamente, o conceito em formação toca na mente consciente e percebemos que temos uma ideia.
Antes disso, porém, o sentimento que predomina é de encantamento.
Há algo em movimento; ainda não é claro.
Mas está lá.
E com vocês, como funciona a geração de ideias?
* Shah C, Erhard K, Ortheil HJ, Kaza E, Kessler C, Lotze M. Neural correlates of creative writing: an fMRI study. Hum Brain Mapp. 2013 May;34(5):1088-101. doi: 10.1002/hbm.21493. Epub 2011 Dec 8.
Muito bom! É bem por aí que passa o conceito de “embodied mind” de que nos fala Francisco Varela. Todo o corpo é seus humores passam por esse processo criativo.